sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Projeto Voyages

Eu já havia me deparado com este projeto, porém, hoje recebi um e-mail do colega Paulino Cardoso da UDESC e resolvi postar aqui:

Para professores, historiadores, especialistas e pesquisadores:

A Universidade Emory, de Atlanta /EUA, lançou recentemente banco de dados eletrônico, interativo e gratuito com o nome de Voyages.
O arquivo, que se encontra disponível no site www.slavevoyages.org, contém cópia de quase 35.000 documentos originais acerca do tráfico transatlântico de escravos entre os séculos XVI e XIX, com listas de navios negreiros e as respectivas regiões de destino, e oferece planejamentos de aulas e outras ferramentas educacionais.
As informações estão distribuídas por cinco regiões: Europa, África, América do Norte, Caribe e Brasil, esse último indicado como o país que "dominou" o tráfico de escravos.
O Professor Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mencionado como membro do comitê diretor do projeto.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ainda a ideologia

Uma das discussões mais acaloradas, durante o módulo da disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa na Especialização em História Cultural, foi sobre a questão da ideologia. Para alguns o uso das noções de imaginário e representações suplantavam a questão da ideologia. 
Naquele contexto e dentro de nossas possibilidades tentei apresentar como tais noções não eram excludentes e que na verdade o que acontecia era um jogo, uma disputa, entre concepções e perspectivas historiográficas que mais uma vez passava pelo desconhecimento, pela crítica pela crítica, enfim. A defesa portanto da idéia de ideologia contra suas sucessoras, foi e é um mau-entendido. 
Talvez o livro "Um mapa da ideologia" organizado por Slavoj Zizek contribua para entendermos melhor a noção de ideologia e quem sabe compreender as relações não excludentes com as noções de representação e imaginário. 



Abaixo comentário de César Benjamin sobre o livro: 

Textos clássicos e contemporâneos sobre o conceito de ideologia, complementares ou divergentes, em alguns casos francamente polêmicos entre si, foram reunidos por Zlavoj Žižek, professor dos departamentos de Filosofia e Sociologia da Universidade de Liubliana (Eslovênia), para este volume inaugural de uma série que pretende "mapear" as questões decisivas da teoria social do nosso tempo. Muitos poderão indagar por que justamente este tema foi o primeiro escolhido. "Ideologia" não é um conceito fora de moda? Não vivemos em um mundo "pós-ideológico"? Não é mais importante discutir a realidade em si mesma, tal como é?
     Deixemos que o próprio Žižek responda, mesmo que de forma indireta: "Um dos estratagemas fundamentais da ideologia é a referência a alguma evidência: ‘Olhe, você pode ver por si mesmo como são as coisas!’ ou ‘Deixe os fatos falarem por si!’ talvez constituam a arquiafirmação da ideologia, considerando-se justamente que os fatos nunca ‘falam por si’, mas são sempre levados a falar por uma rede de mecanismos discursivos (...). A análise do discurso talvez mostre seu ponto mais forte ao responder precisamente a essa questão: quando um inglês racista diz que ‘há paquistaneses demais nas nossas ruas!’, como – de que lugar – ele ‘vê’ isso; ou seja, como se estrutura seu espaço simbólico para que ele possa perceber como um excesso perturbador o fato de um paquistanês andar por uma rua de Londres? Em outras palavras, devemos ter em mente aqui o lema de Lacan de que no real não falta nada: toda percepção de uma falta ou de um excesso (‘não há bastante disso’, ‘há demais daquilo’) implica um universo simbólico."
     Esse universo simbólico é inerente ao homem, constitutivo do homem, específico do homem. Regula, em última instância, a relação entre o imaginável e o inimaginável, o possível e o impossível. Nos permite agir, ou não agir, porque fornece as interpretações, conscientes ou não, de que necessitamos para tal ou qual decisão. Quando essa matriz fundamental – ideológica – se torna invisível, a ideologia não acabou. Ao contrário, experimentou seu mais completo triunfo (embora, por definição, sempre efêmero).
     Depois de reconstruir o desenvolvimento do conceito de ideologia na moderna ciência social e ressaltar suas múltiplas faces, Žižek passa a palavra a artigos já clássicos – os de Lacan e Althusser –, a um surpreendente conjunto de textos de Adorno, inéditos até 1993, e a uma cuidadosa seleção de autores, contemporâneos. Terry Eagleton, Peter Dews e Seyla Benhabib avaliam as contribuições decisivas da Escola de Frankfurt e de Lukács. Michel Pêcheux nos revela uma tradição diferente, a dos pós-estruturalistas franceses. Segue-se o famoso debate sobre a "tese da ideologia dominante", no qual Nicholas Abercrombie, Stephen Hill, Bryan Turner e Göran Therborn trabalham na intersecção de temas gramscianos e althusserianos. Pierre Bourdieu mostra seu distanciamento dessa tradição numa entrevista com Eagleton, enquanto Richard Rorty, refletindo sobre o feminismo, imagina outras possibilidades de transformação social. Michèle Barret relê Gramsci, Laclau e Mouffe, e Fredric Jameson oferece uma exposição magistral sobre a ideologia no capitalismo tardio. O volume termina com mais um ensaio notável do próprio Žižek, que ressalta e compara as sutilezas das análises clássicas da forma-mercadoria, por Marx, e do sonho, por Freud e Lacan.
     Seja pela qualidade de cada contribuição, seja pelo caráter abrangente que a coletânea adquire,Um mapa da ideologia é um livro único, surpreendente, desconcertante, que reúne o que há de melhor na ciência social contemporânea.

     César Benjamin


O livro foi lançado no Brasil pela editora Contraponto e pode ser encontrado neste endereço: http://www.contrapontoeditora.com.br/produtos/detalhe.php?id=89

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Chamada para publicação de artigos - Revista Chrônidas


Caros colegas,




A revista Chrônidas – uma publicação quadrimestral e virtual – é editada pelo Departamento de História numa parceria com a Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Surgiu a partir da iniciativa de alunos de graduação diante da ausência de espaços que possibilitassem a divulgação da produção científica de graduandos. Ao longo de seu primeiro ano de existência, ampliou-se no sentido de abrigar publicações de pós-graduandos, professores e pesquisadores independentes. Chrônidas é composta por um dossiê temático, artigos, resenhas, ensaios e traduções, relacionados a pesquisas em História e áreas afins. Para um melhor conhecimento, convidamos a acessarem a página http://www.revistachronidas.com.br/home.html
Assim é que pensamos em agrupar para o nº 6 da revista – a ser publicado em abril de 2010 – o dossiê: História e pós-modernidade: entre diferenças e diversidade. Gostaríamos de contar com sua importante contribuição para este debate, através da cessão de um texto inédito para compor nosso dossiê. Detalhes sobre normas de publicação podem ser consultados na página acima indicada. Os textos deverão ser enviados, até 26 (sete) de março de 2010, para o seguinte endereço:
Contamos com sua participação no intuito de iniciarmos uma interlocução mais ampla sobre as questões que envolvem este campo de estudos, intercâmbio que se refletirá na elevação da qualidade de nossos trabalhos.


                                         Cordialmente,


                                    Allysson Fernandes Garcia
                   (Professor de História na UEG/Unu-Morrinhos, Organizador do número 06)






http://www.revistachronidas.com.br/home.html

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Análises e estatísticas das Relações Raciais no Brasil

Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER) disponibiliza na internet análises, dados, estátisticas, relatórios, econômicos, históricos e sociais com foco nas questões raciais e de gênero.
O LAESER é coordenado pelo professor Marcelo Paixão e está integrado ao Instituto de Economia da UERJ.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Modelo de Pré-projeto de pesquisa

A pesquisa é uma atividade teórica, racional e tem um formato de atividade intelectual planejada. O pré-projeto é a primeira atividade de planejamento. Sua finalidade é gerar uma ou mais hipóteses, a partir de um tema. Este tema anuncia uma necessidade humana qualquer, mas é a percepção e problematização dessa necessidade que torna a reflexão uma pesquisa.
Segundo a professora Cristina de Cássia Moraes, o projeto é uma proposta teórica prévia , formulada a respeito de determinado assunto. É  a previsão de todas as etapas da pesquisa.Este deve responder ao seguinte conjunto de questões: O quê?  Por quê?  Para quê? Para quem? Onde? Como? Com quê?  Quando?  Quem?  Com quantos?
Não existe um modelo padrão, dependendo da perspectiva adotada por cada curso de graduação ou pós-graduação. Assim segue um modelo possível:




JUSTIFICATIVA: 

Menciona-se a pretensão do trabalho e seu valor nos seguintes aspectos: 


RELEVÂNCIA CIENTÍFICA: O que essa pesquisa pode acrescentar à ciência? 


RELEVÂNCIA SOCIAL: Que benefício pode trazer à comunidade? 


INTERESSE: O que levou à escolha do tema? 


VIABILIDADE: Quais as possibilidades concretas desta pesquisa? 




DELIMITAÇÃO E ENUNCIADO DO PROBLEMA:



Situá-lo no tempo e no espaço, localizando as fontes de origem; 


O problema deve ser formulado de forma interrogativa; 


O problema deve ser claro e preciso.; 


O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável 




FORMULAÇÃO DE HIPÓTESE: 



Idéia geral a ser comprovada no decorrer da pesquisa; 


São respostas provisórias, anteriores à pesquisa 


Deve ser fundada em conhecimento prévio; 


Deve ser verificável; 


É formulada por uma afirmação; 




ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS: 



Os objetivos representam o ponto de chegada em relação ao teste da hipótese e indicam o que é pretendido com o desenvolvimento da pesquisa. 


Objetivo geral: significa traçar as principais metas que nortearão a pesquisa; 


Objetivos específicos: cada objetivo específico atinge um ponto de vista do tema, um ângulo a ser pesquisado 




DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA: 



Representa a descrição formal dos métodos e técnicas a serem utilizados na pesquisa. Define os seguintes aspectos: 


O caminho a ser percorrido: métodos de abordagem e método de procedimentos; 


Os instrumentos de pesquisa a serem utilizados; 


Delimitação do universo da pesquisa; 


Delimitação e seleção da amostra 




REFERÊNCIAS TEÓRICAS: 



Exige capacidade de elaboração própria e espírito crítico; 


Contribui com informações inovadoras , acrescentando algo novo ao conhecimento já existente; 


Requer um levantamento bibliográfico cuidadoso, para analisar as contribuições já expressas acerca do assunto, capazes de esclarecer o fenômeno investigado. 




CRONOGRAMA: 



É a previsão do ritmo de desenvolvimento da pesquisa, esclarecendo acerca do tempo necessário para cada uma das fases 




PREVISÃO DE RECURSOS: 



Levantar e arrolar os recursos materiais e humanos indicando a proveniência dos mesmos 


REFERENCIAS 
Conforme as normas da ABNT 6023 - http://www.ifcs.ufrj.br/~aproximacao/abntnbr6023.pdf




SANTOS, Antonio Raimundo. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 5ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

Jacek Yerka

A pintura que ilustra o blog é do pintor polonês Jacek Yerka, nascido em Varsóvia em 1952. Para conferir mais sobre este criador de mundos veja: http://www.yerkaland.com/

sábado, 2 de maio de 2009

Nova História Cultural

Segundo Lynn Hunt a História Cultural estabelece uma nova forma de trabalhar a cultura.
"Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo." (PESAVENTO, 2003, p. 15)
Neste caso o que os historiadores do cultural fazem é interpretar estes significados a partir de determinados cojuntos de valores e perspectivas estabelecidas pelo presente, em geral lançam mão de determinadas noções como representação, imaginário, sensibilidades. 
Há com a História Cultural um rompimento com as certezas metodológicas da escola dos annales. Através do abandono do projeto de história total, da definição territorial do objeto e da primazia atribuída às divisões sociais.
Para Pesavento a História Cultural estabelece uma perspectiva que coloca em dúvida a própria coerência do mundo.

(...) A História se faz como resposta a perguntas e questões formuladas pelos homens em todos os tempos. (...) explicação sobre o mundo, reescrita ao longo de gerações. O historiador explica, em esforço retórico e pedagógico, imprimindo sentidos ao seu discurso. Na busca de construir uma forma de conhecimento sobre o passado, o historiador dá a ler este passado, decifrando-o e dotando-o de uma inteligibilidade. O trabalho da História é sempre o de dar a ver um Outro, resgatando uma diferença. (PESAVENTO, Idem, p. 59)

Para Pesavento a História seria uma ficção controlada pois este Outro construído através do discurso histórico é percebido através de certas operações mentais que lidam com "a comparação e a analogia, com a diferença e a inversão, com o inusitado" (Idem, p. 61). Este processo seria submetido à testagem dos indícios recolhidos e que sustentam um regime de verdade que visa estabelecer plausibilidade. A História seria assim uma ficção pela recorrência ao extratexto.

A partir desta transformação epistemológica poderemos pensar em algumas estratégias do fazer História, Sandra Pesavento nos chama a buscar um método. Porém, o que ela faz é apresentar métodos possíveis para esta História Cultural; busca as estratégias do fazer história cultural nos trabalhos do antropológo Clifford Geertz, a descrição densa; no paradigma indiciário, da micro-história de Carlo Ginzburg; além do método da montagem de Walter Benjamin. 
Na antropologia de Geertz o que sobressai é a interpretação. Para este antopológo a cultura é como uma gramática que deve ser lida em todos seus aspectos. Uma antropologia interpretativa, hermenêutica é o que nos legou Geertz (Para uma biografia rápida veja: http://monitoresantropologia.blogspot.com/2007/08/clifford-james-geertz.html).
O método geertziano segundo Pesavento contribui para que possamos "explorar as fontes nas suas possibilidades mais profundas, fazendo-as falar e revelar significados"(Idem, p. 66). Através da descrição densa o historiador poderá explorar todas as possibilidades interpretativas, ao aprofundar a análise do mesmo, relida através de um intenso cruzamento de outros elementos que deverão ser observados no contexto e fora dele.
Com Carlo Ginzburg o paradigma indiciário fornece da mesma forma um método interpretativo "centrado sobre resíduos, sobre os dados marginais, considerados reveladores (...) pormenores normalmente considerados sem importância, ou até triviais, "baixos", forneciam a chave para aceder aos produtos mais elevados do espírito humano" (GINZBURG, 1989, pp. 149-150). Esse paradigma uniria aspectos dos saberes do caçador, do detetive, do médico e do crítico de arte. O saber de tipo venatório que ensina ao historiador a farejar, registrar, interpretar e classificar "pistas infinitesimais", inferindo as causas a partir dos efeitos. O saber conjetural, que estabelece um conhecimento indireto, através de indícios aos quais o historiador inquire em busca do sentido. Assim, movido pela suspeita o historiador enfrenta o passado com atitude dedutiva, não se atendo ao primeiro plano, ao visível, mas procura nos detalhes elementos reveladors de fenômenos gerais: "a visão de mundo de uma classe social, de um escritor ou de toda a sociedade" (GINZBURG, Idem, p. 178). Tal paradigma indiciário, não possui regras passíveis de formalização ou de serem ditas, pois segundo Ginzburg o que entra em jogo são alguns elementos imponderáveis: faro, golpe de vista, intuição.
Por fim, dentro da tentativa de buscar um método, Pesavento nos remete a Walter Benjamim e seu método da montagem. Constituída pela ensaística cinematográfica que Benjamim desenvolveu, cujo artíficio mais importante foi a fusão de duas imagens, onde ao trabalhar com a opacidade e a transparência, buscou revelar o que foi apagado. Seu método se opõe ao método historicista, e se define como materialista histórico, é o método dialético, sob o qual o passado deveria ser fixado através do presente, estabelecendo uma síntese (despertar a consciência) das imagens de sonho que encerravam a antíntese (imposições e proposições que o sistema capitalista quer nos fazer desejar)  e tese (aquilo que desejamos). Das ruínas e escombros do passado, dos custos do progresso emergem a história dos excluídos, dos perdedores, justamente da mercadoria, o produto final da exploração capitalista, seria resgatado os sonhos das gerações passadas massacradas pelo sistema do mercado consumidor. 
Em linhas gerais, essas diversas estratégias apresentadas aqui a partir da proposta de Pesavento possibilitam perceber a amplitude e relatividade da metodização histórica, cabendo a cada pesquisador escolher e sobretudo desenvolver seu método de análise a partir do diálogo entre suas hipóteses e as evidências com as quais trabalha. Assim, o método não deve ser visto como algo fixo, mas sim uma construção dialógica e definida durante o trabalho de pesquisa.



Referência:

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

GINZBURG, Carlo. 'Sinais: raízes de um paradigma indiciário'. In: Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.